Ésta tão debilitado o Governo de Sánchez como parece?

Publicado: 28 jul 2024 - 05:30

O resultado das votações da passada terça-feira, especialmente a do teito do déficit, dá a impressão de uma extrema fraqueza do Governo de Pedro Sánchez, que estaria a ser pressionado pelos seus parceiros de Junts a abandonar as negociações com a ERC para formar governo na Catalunha, algo que em caso algum poderia fazer sem comprometer a sua liderança do partido socialista. Os de Junts teriam, supostamente, a chave da governabilidade espanhola e poderiam mesmo derrubar o atual Governo ou, pelo menos, impedi-lo de legislar ou de aprovar orçamentos. Mas as coisas não são tão fáceis ou simples como parecem.

Não se pode negar que Sánchez tem problemas e não está na melhor das situações, mas os seus problemas têm mais a ver com os processos judiciais em que está mergulhado do que com a política, onde continua a desempenhar o papel central. De facto, é o único que foi mquem de chegar a acordos com todo o espetro político, com a possível exceção do VOX, e digo possível porque na última legislatura conseguiu chegar a algun acordo específico con eles. É verdade que Junts pode querer vingar-se não aprovando certas leis que interessam ao governo, e essas serão muito provavelmente as leis apoiadas pela ala esquerda do seu governo, que são as menos susceptíveis de despertar o interesse da sua base social. Mas com a deriva da VOX, é muito improvável que Puigdemont consiga propor uma moção de censura bem sucedida e destituir o presidente do governo. Não parece viável que Abascal, depois da rutura unilateral, queira fazer de Feijoo presidente, mesmo com os votos dos Junts. De momento, Sánchez está seguro no seu cargo, mas a sua capacidade de governar é outra questão, más o tempo podería jogar a seu favor.

A pressão de Junts é exercida para tentar impedir que Esquerra apoie Salvador Illa para presidente da Generalitat, não é para impedir que um partido espanholista, como entendem que é o PSC é, assuma o governo catalão. É porque a Junts está a apostar o seu próprio futuro nestas eleições e, por isso, é muito provável que Puigdemont decida regressar à Catalunha, pelo menos no momento em que escrevo. Junts mantém-se unido, de momento, e segue as directivas do seu líder, sobretudo devido à expetativa de conseguir, de uma forma ou de outra, quotas de poder no governo catalão. Imaginemos que o pacto tripartido de esquerda na Catalunha se consuma e que o partido de Puigdemont é deixado para trás e, pior ainda, enganado pelos socialistas espanhóis, uma vez que nem a sua amnistia foi capaz de o conseguir. No dia seguinte à esperada investidura de Illa, tornar-se-ia evidente a sua soedade e a sua incapacidade de formar alianças, tanto a nível regional como nacional, exceto para servir de muleta ao PSOE. Neste contexto, que se prevê de longa duração e sem expectativas, é muito provável que as bancadas nacionalistas acabem por se alinhar, após alguma negociação seja com Puigdemont ou com quem o substitua, com as da atual maioria governamental. Se o regresso de Puigdemont ou a militância de Esquerra não o impedirem, creio que politicamente poderá haver Sánchez durante bastante tempo.

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