Os dilemas do PP

Publicado: 21 jul 2024 - 03:36

O argumento apresentado informalmente pela direção do Partido Popular,, ao comentar a decisão da Vox de romper com os governos regionais é muito mais interessante do que parece à primeira vista e, ainda que seja um assunto que já não está no centro das atenções dos meios de comunicação , tem algumas implicações estratégicas para a política espanhola a médio e longo prazo que não podem ser ignoradas.

As vantagens para o PP de romper com VOX, são basicamente duas: uma é livrar-se do peso da VOX nas negociações com outras forças, ao mesmo tempo que ganha acesso aos eleitores moderados do PSOE que até agora têm estado reticentes por receio da entrada da VOX no governo. A outra é que os eleitores da VOX acabariam por votar no PP, como um voto útil para se livrarem do governo de Sánchez. Se os argumentos fossem aplicados à Galiza, ou se as eleições fossem a curto prazo, não tenho dúvidas de que estariam correctos, de facto é a estratégia que deu a vitória ao PP nas últimas eleições galegas, em que efetivamente muitos potenciais eleitores de VOX acabam por apoiar o PP para evitar um governo de esquerda. O problema é que isto é dificilmente aplicável à política de Estado e pode ter consequências indesejáveis para o Partido Popular se os seus dirigentes não actuarem com habilidade.

Em primeiro lugar, nada garante que os votos moderados do PSOE vão para o PP, uma vez que muitos dos seus actuais eleitores já sabem que os seus representantes se vão aliar a forças pró-independência e de extrema-esquerda e parecem preferir isso a um governo do PP com ou sem partidos de direita. Também pode acontecer o contrário, ou seja, que os actuais eleitores do PP deixem de votar nele por estar demasiado próximo do PSOE ou, pior ainda, que os eleitores que ja abandonaram o PSOE e passaram a votar no PP regressem ao seu local de origem, dado que se Feijoo fizer pactos sem problemas, não deverá ser Sánchez tão mau. Além disso, a estratégia de pactos com o movimento independentista catalão parece estar a dar frutos para o Presidente espanhol, de tal forma que as suas principais forças estão a ser neutralizadas e incapazes de impor a sua agenda. Estes são mais como muletas do PSOE, como é o caso da ERC, ou um partido sem um líder que funcione plenamente e sem capacidade para impor a sua agenda, como o Junts, que nem sequer tem a possibilidade de apoiar uma moção de censura, mesmo que seja apenas por raiva.

O outro cenário é ainda mais improvável. Um partido que se incline para o centro ou para o centro-esquerda dificilmente atrairá a atenção da maioria dos actuais eleitores do Vox e poderá mesmo perder parte da fação mais à direita do PP, que ja vota nele precisamente porque é um voto útil. Uma aproximação do partido de Feijoo às posições de Sánchez ou uma maior colaboração com este poderia dar origem à perceção de que Sánchez e Feijoo seriam mais ou menos iguais, abrandando o movimento de votos. Esta hipótese baseia-se na ideia de que o que move o eleitor do VOX é sobretudo a rejeição das políticas de Sánchez e, ainda que seja verdade que não gosta delas, o seu voto é muito mais ideológico e não é tanto a rejeição de Sánchez como das suas políticas o que o mobiliza e, se estas políticas forem imitadas pelo Partido Popular, a rejeição poderia estender-se também a este, tornando-o o principal rival. Tal como aconteceu em França, onde o rival a abater pela extrema-direita passou a ser Macron e não os socialistas e , a seu tempo, algo semelhante podería acontecer aqui. Feijoo não se deve deixar levar pelo entusiasmo e começar a pensar a médio prazo.

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