O fracaso da reduçâo da jornada de trabalho

Publicado: 14 sep 2025 - 03:00

Há muitos anos, um professor nos ensinou que, na maioria das vezes, quando um medio apresenta uma notícia econômica como boa, é porque os resultados serão objetivamente ruins, enquanto que, se for apresentada como mala, as consequências não serão tão ruins assim. Desde então, pude corroborar a sabedoria do professor, pois a sua afirmação resistiu muito bem ao passar do tempo, e continua a fazê-lo até hoje. Suponho que, ao ler a imprensa nestes dias, ele se divertiria muito com as análises tão pessimistas que são feitas em muitos meios políticos sobre o fracasso da reforma laboral proposta pela ministra do Trabalho, Yolanda Díaz. Estes lamentam o fracasso de uma medida que implicaria receber o mesmo por menos horas de trabalho, o que, como qualquer pessoa pode observar, conduz a um encarecimento da mão de obra nas empresas que, nos seus convenios, tivessem acordado mais do que essas horas. Sabemos também que quando um bem ou serviço fica mais caro, a demanda diminue, e isso aconteceria com os empregos afetados. Porque, claro, a medida consiste em obrigar a outras pessoas a pagá-la, o que é uma forma estranha de solidariedade ou generosidade por parte dos governantes.

A «boa» notícia da redução do horário de trabalho seria feita à custa do emprego de muitos empregados, que passariam então a poder «viver», pois teriam o dia todo livre, ou à custa do estacamento salarial de muitas outras, que poderiam «viver» mais tempo, mas com a consequência de um salário congelado por muito tempo, pelo que creo que não poderiam desfrutar tanto da nova «vida». Além disso, em tempos como os atuais, de concorrência global, não parece ser a melhor das ideias que a economia espanhola, uma das que tem peor produtividade do nosso espaço económico, se torne ainda menos atraente para os mercados mundiais. Não aceito o argumento de que assim os trabalhadores estariam mais motivados e produziriam mais. Se fosse desta forma as empresas afetadas já o teriam feito há muito tempo, e sem que ninguém lhes tivesse imposto, e se não o fizeram por alguma razão será, porque não acredito que estas empresas quisessem ter uma menor produtividade só por ter.

O fracasso da medida é, portanto, uma boa «má notícia» para muitas pequenas empresas e, talvez sem que elas saibam, para muitos trabalhadores que poderão manter os seus empregos e, com o tempo, até melhorar as suas condições. No entanto, no argumento dos partidos que se opõem à medida, subjaz um discurso que, no final, acaba por reforçar-la. Por exemplo, o porta-voz do Junts afirmou que concordava com a redução da jornada laboral, mas que não a apoiavam porque poderia prejudicar as pequenas empresas catalãs. Traduzido, isso significa que ele concorda com o fundo da medida e que, quando a situação política for adequada, eles a apoiarão, e isso pode acontecer a qualquer momento. Não é uma recusa por princípios, mas por oportunidade política, algo que intuo que também pode se referir ao PP.

A oposição à medida deveria partir de valores, e assim seria mais fácil justificá-la sem ter que aceitar o quadro mental da esquerda. Primeiro porque a fixação da jornada deve resultar de acordos e adaptar-se à realidade de cada setor e empresa, algo que os governos parecem não ser capazes de fazer nem de compreender. Além disso, porque implica assumir os valores do trabalho da esquerda, que parte do princípio de que este é uma espécie de castigo e maldição, enquanto o lazer é viver bem. O trabalho também é vida, além disso, ajuda-nos a ter uma vida mais confortável e melhor, e defendê-lo também deveria ser uma prioridade.

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